Festival comemora crescimento da animação brasileira e novas tendências do setor no mundo
O curta Os Anjos do Meio da Praça: mercado nacional está tão aquecido que até faltam profissionais.
Foto: Divulgação O curta Os Anjos do Meio da Praça: mercado nacional está tão aquecido que até faltam profissionais.
Um dos mais tradicionais eventos da animação mundial, o Anima Mundi começa nesta sexta-feira (16) no Riode Janeiro e depois segue para São Paulo, no dia 28, com centenas de curtas-metragens na bagagem, mais precisamente 452. Aos 18 anos de vida, o festival reflete com propriedade o boom da animação brasileira e o bom momento do mercado em todo o mundo. Há filmes dos mais diversos tipos e técnicas, e o melhor é que eles têm conquistado janelas para serem exibidos e consumidos, principalmente na televisão a cabo.
Uma das diretoras e fundadoras do Anima Mundi, Aída Queiroz, lembra que foram justamente esses os objetivos que motivaram a criação do festival: movimentar o mercado e o circuito exibidor. "O que o festival buscou nesses anos todos foi facilitar o acesso para as pessoas conhecerem o que está sendo feito no mundo inteiro, e não só o que era visto na TV, com Disney e Hanna Barbera", explica. "Como consequência, hoje quando o mercado lança alguma coisa, é mais fácil de absorver essa demanda. O festival é uma vitrine para isso acontecer, uma mola propulsora." O público do Anima Mundi dá uma ideia do interesse pela animação: são quase 1 milhão de espectadores desde 1992.
Foto: Divulgação A animação Something Left, Something Taken
No Brasil, uma conjuntura muito favorável ajudou o setor a atingir a maturidade. As ferramentas de computação, a Internet como forma de divulgação e pesquisa, a facilidade de adaptação para todos os formatos e uma fatura de editais de incentivos governamental, em todas as esferas (federal, estadual e municipal), são todos fatores, segundo Aída, para esse momento favorável. O mercado está tão quente que até falta mão-de-obra para os projetos em produção.
Esse é justamente um dos assuntos que serão debatidos no Anima Fórum, braço do festival que reúne profissionais e empresas da área. "A meninada de 20 e poucos anos que trabalha com animação é toda autodidata. Não existe ainda um curso voltado especificamente para animação. Vai ter que ser feito um investimento grande nessa área", aponta a diretora. "Vem pessoal do Nordeste, de São Paulo, do interior, de tudo que é lugar para trabalhar nisso. Foi criada uma demanda que agora precisa ser suprida." Nesse sentido, representantes de escolas no Canadá e França, países com tradição em animação, vão compartilhar suas experiências do setor.
Jeitinho brasileiro
O Brasil é o país com maior número de filmes selecionados: 108, quase o dobro do ano passado (66). A animação nacional, ínfima quando o Anima Mundi começou, fica hoje, conforme Aída, de igual para igual com outros países e até briga por espaço no exterior. "Essa relação começou há uns dois anos, ainda é bem recente, com TVs do Canadá, da Inglaterra. Os compradores procuram os brasileiros buscando uma coisa nova. É uma cultura nossa, livre, sem amarras. O resto do mundo é muito padronizado, com uma fórmula. Eles sabem da nossa criatividade e buscam isso aqui." Dois bons exemplos são a campanha "Xixi no Banho", da SOS Mata Atlântica, dirigida por Fernando Sanches, e o belo curta Os Anjos do Meio da Praça, de Alê Camargo e Camila Carrossine.
Foto: Divulgação Os arranha-céus do argentino Teclópolis
Também são destaques da programação o argentino Teclópolis, em que peças de informática dão vida a um conto futurista trágico, através de uma técnica surpreendente, e o norte-americano Something Left, Something Taken, dono de um ótimo roteiro sobre uma dupla de fanáticos por ciência forense, aquela do seriado CSI. Da França, é bom ficar de olho em Madagascar, diário da viagem do diretor ao país africano que dá a nítida impressão de um folhear de páginas, e O Homem que Dorme, interessante história alegórica feita quase que manualmente.
A lista não para. Desse mar de opções, Aída identifica que esse ano, no geral, os filmes estão mais tensos e menos engraçados - o que era uma característica comum da animação - e maiores do que eram, ultrapassando a barreira dos 5 minutos. "Com o computador, o trabalho de finalização está mais fácil, de tratar as imagens, colocá-las em sequência", diz a diretora. "E você pode fazer tudo isso sozinho, sem precisar de uma máquina tão arrojada. Assim dá fazer filmes mais longos e explorar melhor o roteiro, porque a técnica não vai mais ser tão trabalhosa."
Entre os convidados internacionais, a estrela é Stephen Hillenburg, criador do desenho Bob Esponja, que vai responder perguntas dos fãs e mostrar parte de seu trabalho. De Barcelona, vem Jordi Grangel, um dos profissionais envolvidos em A Noiva Cadáver, do diretor Tim Burton, para falar como foram feitos personagens, adereços, figurinos e cenários. A África do Sul, país-sede da Copa, é lembrada com uma mostra especial de sua animações, desconhecidas do público brasileiro. E também haverá a chance de assistir em primeira mão a Meu Malvado Favorito, primeiro longa de um grande estúdio norte-americano animado inteiramente na França, que estreou na semana passada no topo das bilheterias dos EUA.
Serviço - Anima Mundi 2010
Rio de Janeiro
De 16 a 25 de julho
Centro Cultural Banco do Brasil (sessões gratuitas e pagas), Cinema Odeon BR, Centro Cultural Correios, Casa França-Brasil (entrada franca), Unibanco Arteplex Botafogo, Oi Futuro Flamengo, Oi Futuro Ipanema
Ingressos: R$ 6 (R$ 3 a meia entrada)
São Paulo
De 28 de julho a 1 de agosto
Memorial da América Latina e Centro Cultural Banco do Brasil
Ingressos: R$ 6 (R$ 3 a meia entrada)
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