domingo, 27 de março de 2011
Caramelo, de Nadine Labaki. Dia 31/03 às 19h.
Direção:Nadine Labaki
Atores:Nadine Labaki, Yasmine Elmasri, Joanna Moukarzel, Gisèle Aouad.
Duração: 95 min
Gênero: Comédia
Lançamento: 2007 (França, Líbano)
Sinopse
Beirute. Cinco mulheres costumam se encontrar regularmente no salão de beleza Sibelle: Layale (Nadine Labaki), amante de um homem casado e que sonha com o dia em que ele se separará; Nisrine (Yasmine Elmasri), que está prestes a se casar mas não é mais virgem e não sabe como contar isto ao noivo; Rima (Joanna Moukarzel), que sente atração por mulheres; Jamale (Gisèle Aouad), que tem medo de envelhecer; e Rose (Sihame Haddad), que abriu mão de sua vida para cuidar da irmã mais velha. No salão os temas prediletos do quinteto são o amor, sexo e os homens.
segunda-feira, 21 de março de 2011
Zineiros do Passado, Presente e futuro – Entrevista com o diretor Márcio Sno - Por Michael
Zineiros do Passado, Presente e futuro – Entrevista com o diretor Márcio Sno
Por Michael Meneses – Fotos Arquivo pessoal de Márcio Sno
Fanzines é umas das praticas literárias mais livres no mundo alternativo, seja nas artes, quadrinhos, poesia, música e cultura em geral. Até meados dos anos 90 essas publicações feitas na base de recortes e colagens tinham (e ainda têm) seguidores em todo mundo, era uma fonte confiável para se conhecer e se divulgar cultura. Alguns zines chegaram à categoria de revistas com boa circulação no meio alternativo como ocorreu com a Rock Bigrade e Roadie Crew. Porém aos poucos os zines perderam espaço com a popularização da internet, não que a rede seja a vilã da história, mas o fato é que alguns zines tornaram-se sites e blogs. Contudo os zines vêm recuperando força através de iniciativas de guerrilheira de alguns fanzines que mesmo com a internet persistem como é o caso do “Aviso Final” zine com mais de 20 anos de circulação, com surgimentos de novos zines, e recentemente com o documentário “Fanzineiros do Século Passado” filme produzido pelo jornalista Márcio Sno. Com sua formação zineira, jornalistica e trabalhando no Núcleo de Cultura & Lazer da ONG Ação Comunitária em São Paulo, Márcio teve sua primeira experiência cinematográfica seguindo uma regra básica na criação de zine, o “Do it Yourself” ou “Faça Você Mesmo!” ao produzir com o amigo de faculdade Averaldo Nunes Rocha: “INGs - Indivíduos Não Governamentais”. A regra básica voltou a ser utilizada na produção de “Fanzineiros do Século Passado” o resultado é o reconhecimento de mídia e publico. O filme tem estréia gratuita em terras cariocas quinta-feira, 24 de março, às 19h no Cineclube Nosso Tempo/Teatro Armando Gonzaga em Mal. Hermes/RJ e aproveitamos para um papo com o diretor Márcio Sno.
Michael Meneses - Cineclube Nosso Tempo: “Fanzineiros do Século Passado” é o seu segundo filme. Antes você produziu “INGs - Indivíduos Não Governamentais”. Fale um pouco sobre “INGs” e quais as lições aprendeu com ele e aplicou em “Fanzineiro”?
Marcio Sno: O INGs tinha tudo para ser “apenas mais um trabalho de conclusão de curso de Jornalismo”, mas foi além disso. Estrapolou os muros da faculdade e exibimos em um monte de lugares. Lançamos em 2007 e até hoje recebemos convites para apresentações seguidas de debates. Há uns dias recebemos a notícia que ele faz parte da grade de aulas de uma disciplina da USP Leste! Bem, esse doc conta a história de dois catadores de papel: Severino Manoel de Souza montou uma biblioteca com os livros que achou no lixo, num prédio ocupado no centro de São Paulo e José Luiz Zagati que montou um cinema na laje de sua casa. Além de relatar a história dessas duas figuras, promovemos (eu e meu companheiro Averaldo Nunes Rocha) um debate indireto com intelectuais que tentaram responder à pergunta: “o que leva pessoas em condições tão precárias a tomar iniciativas de promoção à cultura sem ter retorno financeiro com isso?”. Pegamos depoimentos de Celso Frateschi (então presidente da Funarte), do geógrafo humanista Aziz Ab’ Saber, do sociólogo Reinaldo Pacheco e do músico Tom Zé, além de usuários da biblioteca e do cinema. Utilizamos materiais precários, não sabíamos filmar, aprendemos tudo na marra e não contamos com quase nenhuma ajuda da faculdade. Foi tudo na unha mesmo, na garra, na vontade. Mas valeu à pena. Hoje assisto e vejo que muita coisa poderia ter feito melhor, seja, na captação de imagens, enquadramento, edição, etc., mas acho que o registro teria que ser esse mesmo, pois tudo fez parte de um contexto muito profundo e pessoal. A experiência com a gravação desse doc, os macetes, as sacadas, ajudou em muito para me dar coragem em investir no projeto do “Fanzineiros”, pois percebi que não era tão difícil fazer um doc, o que me faltava era aprender a editar, aprendi. E se não tivesse rolado a experiência com INGs, jamais teria tomado gosto pelo audiovisual, mesmo porque antes dele não gostava de trabalhar com vídeo. Peguei o gosto nas gravações. E acho que tão sendo não vou deixar de trabalhar com audiovisual, pois é possível fazer muita coisa com poucos recursos.
Marcio Sno: O INGs tinha tudo para ser “apenas mais um trabalho de conclusão de curso de Jornalismo”, mas foi além disso. Estrapolou os muros da faculdade e exibimos em um monte de lugares. Lançamos em 2007 e até hoje recebemos convites para apresentações seguidas de debates. Há uns dias recebemos a notícia que ele faz parte da grade de aulas de uma disciplina da USP Leste! Bem, esse doc conta a história de dois catadores de papel: Severino Manoel de Souza montou uma biblioteca com os livros que achou no lixo, num prédio ocupado no centro de São Paulo e José Luiz Zagati que montou um cinema na laje de sua casa. Além de relatar a história dessas duas figuras, promovemos (eu e meu companheiro Averaldo Nunes Rocha) um debate indireto com intelectuais que tentaram responder à pergunta: “o que leva pessoas em condições tão precárias a tomar iniciativas de promoção à cultura sem ter retorno financeiro com isso?”. Pegamos depoimentos de Celso Frateschi (então presidente da Funarte), do geógrafo humanista Aziz Ab’ Saber, do sociólogo Reinaldo Pacheco e do músico Tom Zé, além de usuários da biblioteca e do cinema. Utilizamos materiais precários, não sabíamos filmar, aprendemos tudo na marra e não contamos com quase nenhuma ajuda da faculdade. Foi tudo na unha mesmo, na garra, na vontade. Mas valeu à pena. Hoje assisto e vejo que muita coisa poderia ter feito melhor, seja, na captação de imagens, enquadramento, edição, etc., mas acho que o registro teria que ser esse mesmo, pois tudo fez parte de um contexto muito profundo e pessoal. A experiência com a gravação desse doc, os macetes, as sacadas, ajudou em muito para me dar coragem em investir no projeto do “Fanzineiros”, pois percebi que não era tão difícil fazer um doc, o que me faltava era aprender a editar, aprendi. E se não tivesse rolado a experiência com INGs, jamais teria tomado gosto pelo audiovisual, mesmo porque antes dele não gostava de trabalhar com vídeo. Peguei o gosto nas gravações. E acho que tão sendo não vou deixar de trabalhar com audiovisual, pois é possível fazer muita coisa com poucos recursos.
M.M. - Como está a recepção e como foram os eventos de lançamentos do filme?
Marcio Sno: Muito além do que esperava! O lançamento oficial foi durante o 1o Ugra Zine Fest e foi muito bacana ver a reação das pessoas na primeira exibição pública do doc! A reação é indescritível! O estômago fica gelado até o final do filme! Foi mais legal ainda o pessoal me cumprimentando no final. Ele também foi exibido em outros lugares, as próximas sessões serão no Cineclube Nosso Tempo/RJ (23/3) e no Engenhoca - Sesc Engenho de Dentro/RJ, em 26/3. Também tem agendada uma exibição no Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso em 21/4, aqui em São Paulo. Além disso, tem muitos professores e educadores exibindo para seus educados, grupos de amigos e além da exibição no Vimeo, que até o momento já tem 536 exibições. Também distribuí 200 cópias em DVD. Bem, tenho certeza de que, pelo menos mil pessoas assistiram ao doc e a ideia é que mais pessoas ainda vejam! Meu próximo passo é botar legendas em inglês para divulgar no exterior! Vamos dominar o mundo! Aguarde!
M.M - Desde o início vários veículos de comunicação, sejam da grande mídia ou da mídia alternativa como zines e blogs, estão apoiando sua iniciativa. Tendo em vista que o doc é uma produção independente o que você tem a dizer sobre a importância da mídia como um todo a apoiar projetos culturais independentes?
Marcio Sno: Cara, em mais um quesito me surpreendi. Foi muito bacana o apoio que recebi de fanzines, blogs, sites e jornais com o doc. Antes mesmo do material ficar pronto, saiu uma matéria na última edição impressa do caderno Rio Fanzine, do jornal O Globo e depois disso, no Jornal da Tarde de SP, Zero Hora do RS, capa do Segundo Caderno do O Globo no Estado de Minas e outros que vem me procurando. Nesse meio tempo também rolou uma matéria no programa Login da TV Cultura. Acho de extremo valor esse tipo de divulgação, principalmente por ser uma produção absolutamente independente. Não só por esse trabalho, mas para todos independentes que estão conquistando espaço na grande mídia para divulgar seus trabalhos. Só nós sabemos como é investir grana, vontade, tempo para fazer algo preocupado somente em colocar o bloco na rua. Precisamos de todos os espaços possíveis, para divulgar nossa arte, o nosso suor e ter esse trabalho reconhecido e divulgado, não há nada que pague!
M.M - O filme vem sendo disponibilizado para download na internet. A distribuição gratuita sempre foi algo característico dos fanzines, contudo não lhe ocorre lançar o filme em DVD oficial, certamente vários selos independente teriam interesse em lançá-lo, sobretudo pelo reconhecimento que o filme vem tendo de crítica e público?
Marcio Sno: Desde o começo não me preocupei com isso, mas estive sempre aberto para propostas, que não vieram. Como não criei expectativas para isso, lidei com muita tranqüilidade. Claro, se rolar uma proposta de lançamento por um selo ou projeto incentivado, estou à disposição! A proposta de colocar na internet foi por dois motivos: o primeiro foi o óbvio, pois se gasta muito com mídia, impressão, papel e correio. O segundo foi para divulgar o máximo possível, quanto mais pessoas assistirem ao doc, melhor! Quero espalhar o terror por todos os cantos!
Marcio Sno: Ah, aquelas básicas: falta de grana, de tempo. Não sei te tive muitos problemas, mesmo porque o equipamento eu peguei emprestado do meu amigo Averaldo (que produziu o INGs comigo – porém, por falta de tempo, ele não pôde contribuir nesse) e as gravações fui me agendando de acordo com a disponibilidade e/ou quando alguém vinha pra SP. Gostaria de ter a oportunidade de viajar o Brasil gravando, mas infelizmente não foi possível. Cara, acho que não tive grandes dificuldades mesmo, fiz o que foi possível com o que eu podia e conseguia, como não criei grandes expectativas, tudo que veio foi lucro!
Marcio Sno: Por enquanto, penso em lançar um próximo capítulo e talvez fechar o ciclo. Porém, se pintar mais idéias, quem sabe não faço uma trilogia pra ficar mais clássico, né? No primeiro capítulo foi focado na produção até metade dos anos 1990, com a chegada a internet, com o pessoal explicando como rolava a produção sem recursos tecnológicos e as dificuldades para divulgar as publicações. O próximo capítulo já vem sendo produzido, já gravei com diversas pessoas, mas ainda falta um bocado. Agora vamos falar sobre os fanzineiros que sobreviveram ao passar a “fronteira do virtual”, os fanzineiros que surgiram após a internet, as ações para promover fanzines, como festivais, eventos, fanzinotecas, sites, etc. E também o uso pedagógico de fanzines em sala de aula. Acho que será possível traçar um breve panorama do que está acontecendo no fanzinato atual. Esse doc pretende ser mais didáticos e com mais imagens ilustrativas. Chega, não vou dar mais detalhes!
M.M - Mesmo com a internet cada vez mais popular e tendo ela feito com que muitos zines se migrassem para blogs e sites, os zines impressos estão voltando. Como você analisa as edições atuais dos zines?
Marcio Sno: Varia muito, assim como era antigamente. Tem fanzines mais tradicionais, utilizando técnicas simples, outros mais sofisticados, utilizando de recursos diferentes, como o La Permura!, de Rodrigo Okuyama, no qual ele abusa em estêncil, costura, materiais alternativos e montagem diferenciada. Acho que o futuro dos zines impressos devem seguir por essa diferenciação. Eu mesmo estou produzindo um e vou utilizar algumas dessas técnicas. Realmente, muitos zines impressos estão sendo lançados, é um fenômeno de renascimento, acho isso muito bacana, e essa retomada também se dá graças a iniciativas como Ugra Press, Zinescópio, Fanzinoteca Mutação, que estão batalhando para que a arte de produzir fanzines em papel nunca acabe.
M.M - Você pensa em inscrever o filme em alguma mostra, concursos de cinema?
Marcio Sno: Sim, claro! Isso faz parte do plano de botar pra circular. Já inscrevi em três festivais e espero a resposta pra ver se vai ser selecionado. Mas não tenho pretensão de competir para ganhar. Se rolar premiação, ótimo, mas não é esse objetivo.
M.M - Nos últimos anos alguns filmes e documentários sobre rock ou música independente foram feitos no Brasil, algo que há muito já acontece lá fora. Como você vê esse segmento no cinema nacional?
Marcio Sno: Acho muito bacana, pelo motivo de eu ser apaixonado por música e por documentários. Logo, sou fissurado por tudo que sai de documentários com essa temática. Acho que a iniciativa dos produtores em lançar algo nessa linha, é heróica e merece os nossos aplausos! Afinal, esses docs são produzidos com muita garra e o retorno financeiro é quase zero. E esses caras são os verdadeiros heróis da resistência!
M.M - No Rio de Janeiro duas exibições estão confirmadas para “Fanzineiros do Século Passado”. Uma delas no Cineclube Nosso Tempo, uma realização da ONG Cidadania em Movimento, a outra ocorre no SESC, órgão que sempre incentivou o bem estar social. Você trabalha em uma ONG. Fale sobre sua participação nessa ONG e o que você acha do filme ser lançado no Rio nesses espaços?
Marcio Sno: O meu trabalho, que paga minhas contas, é na ONG Ação Comunitária, aqui em SP. Atuo no Núcleo de Cultura & Lazer que implanta atividades culturais nos nossos programas sócio-educativos. Estou há 14 anos nessa história e é um serviço muito bacana, adoro tudo isso! Apresentar o doc nessas organizações é uma grande honra, pois estamos na mesma luta, sempre oferecendo cultura às pessoas e ter as portas abertas nessas organizações para mim é de extrema importância. Queria muito estar presente para, além de conhecer esses espaços importantes, também sentir o calor e acompanhar as reações das pessoas com o doc, mas querer nem sempre é poder. Mas o importante que o doc fará minhas vezes por aí e tenho certeza de que Michael Meneses me representará muito, já que acompanhou todo o processo e está dando uma grande força para as exibições no Rio. O meu muito obrigado público!
M.M - Mensagem fanzineira...
Marcio Sno: Agradeço de coração esse espaço que está abrindo para divulgação do doc e grande força que você vem dando pra divulgar o nosso trabalho. Juntos, temos mais força e as coisas acontecem com mais fluidez. Não consigo ver a cultura alternativa seguir de outra forma. Ao invés de ficarmos reclamando da vida, vamos fazer! - Por Michael Meneses - Parayba Records - paraybarecords@hotmail.com
Agenda de Exibições para Fanzineiros do Século Passado:
Dia 24 de Março - Cineclube Nosso Tempo - Teatro Armando Gonzaga Mal Hermes às 19h - EVENTO GRATUITO!
Dia 26 de Março - Engenhoca - SESC do Engenho de Dentro/RJ às 18h, Filme + Shows + Stand de Material Altenativo - EVENTO GRATUITO!
Dia 26 de Março - Engenhoca - SESC do Engenho de Dentro/RJ às 18h, Filme + Shows + Stand de Material Altenativo - EVENTO GRATUITO!
Novas datas podem surgir, se você quer exibir o "Fanzineiros do Século Passado" no Rio de Janeiro, escreva: paraybarecords@hotmail.com Outros estados, escreva para o Márcio Sno nos contatos abaixo:
Contatos com Márcio Sno:
http://marciosno.blogspot.com
http://twitter.com/marciosno
http://www.myspace.com/367945872
http://www.portalrockpress.com.br
http://www.revoluta.com
http://www.flickr.com/photos/marciosno/
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sábado, 5 de março de 2011
À Deriva, de Heitor Dhalia. Dia 10/03 `as 19h.
Sinopse
Búzios, início dos anos 80. Filipa (Laura Neiva) é uma adolescente de 14 anos que passa as férias com seus pais, Matias (Vincent Cassel) e Clarice (Débora Bloch), e ainda os irmãos Fernanda (Izadora Armelin) e Antônio (Max Huzar). Clarice está sempre embriagada, destilando veneno contra o marido. Já Matias está mais preocupado em concluir seu novo livro, o que o torna desleixado em relação aos problemas da famíia. Filipa vive à margem desta situação, até que um dia flagra o pai beijando Ângela (Camilla Belle), uma bela americana que mora no local.
Ficha
Título original: (À Deriva)
Lançamento: 2009 (Brasil, EUA)
Direção:Heitor Dhalia
Atores:Vincent Cassel, Debora Bloch, Camilla Belle, Laura Neiva.
Duração: 97 min
Gênero: Drama
quinta-feira, 3 de março de 2011
Crítica: Os matadores e Sinistro
Elipse que funde um só tempo
Luiz Joaquim da Silva Jr.*
Em 1997 o cinema nacional ainda encontrava-se em processo de soerguimento após o duro golpe dado pelo governo Collor no início daquela década. Enquanto Carla Camurati com seu “Carlota Joaquina – Princeza do Brazil” havia reconquistado o público três anos antes, Fábio Barreto e “O Qu4trilho”, ao concorrer ao Oscar de filme estrangeiro em 1996, mostrava que as novas produções brasileiras já tinham fôlego para impressionar o mercado estrangeiro.
Foi também em 1997 que surgiu no horizonte do nosso circuito comercial cinematográfico Beto Brant com seu primeiro longa-metragem, “Os Matadores”. O jovem Brant, então com 34 anos, em pouco tempo viria a se tornar um dos mais produtivos, corajosos e eficazes entre os realizadores de sua geração.
O cineasta já havia dado sinal de vida inteligente no campo da produção audiovisual, fosse na confecção de videoclipes, fosse nos anteriores curtas-metragem: “Aurora” (1987), “Dov’è Meneghetti?” (1988) e, particularmente, em “Jó” (1993). Com “Os Matadores”, Brant dava continuidade e elaborava melhor seu desejo de registrar a realidade com uma narrativa seca, direta, sem firulas; estando o homem e seus conflitos com o próximo e com o ambiente como principal problemática.
A secura e objetividade narrativa não escondiam, porém, um esmero dramatúrgico e um roteiro laborioso, com um requinte pouco visto pelo cinema que se fazia no Brasil em 1997. E o mais importante, com uma identidade da classe média brasileira bem marcada. Coisa mais rara ainda quando o gênero era o policial nacional, que prescindia de glamour mas necessitava de um perfil audiovisual enxuto. Perfil que Brant conseguiu imprimir muito bem em “Os Matadores”, assim como em seus projetos posteriores, tais como “Ação entre Amigos” (1998) e “O Invasor” (2001) cuja trama também envolvia violência física e psicológica.
No caso de “Os Matadores” os homens em conflito são os assassinos de aluguel Toninho (Murilo Benício) e Alfredão (Wolney de Assis) que esperam à noite num bar, na divisa entre o Brasil e o Paraguai, uma vítima que nunca chega. Enquanto o condenado não aparece, o veterano Alfredão fala ao novato e impaciente Toninho sobre o pistoleiro Múcio (Chico Diaz, estupendo) seu antigo parceiro, considerado uma lenda na região.
Em elipses que unem o presente e o passado, o roteiro escrito pelo próprio Brant em parceria com Fernando Bonassi, Victor Navas e Marçal Aquino (cujo conto “Matadores” deu origem ao filme) abre espaço para acompanharmos não só as perturbações internas de seus personagens como também para observamos o ambiente atuando sobre esses personagens. Este último aspecto fica bem marcado com as seqüências do rodeio e do comércio no Paraguai, que “invadem” o enredo como um olho documental, oxigenando a veracidade da história ali contada.
O curta-metragem brasiliense “Sinistro” (2000), de René Sampaio, incluído neste pacote, também é baseado em contos, no caso, os de Fernando Sabino. Funciona também com o passado e o presente interligando os personagens. Eles são um ladrão, um taxista, seu passageiro e dois bombeiros ansiosos para se livrarem do corpo de um acidentado no trânsito. Entre todos eles, um jogo de futebol prestes a iniciar. Além do acidente sinistro, é o humor que também está presente em todas as situações deste muito bem encenado e montado trabalho.
Luiz Joaquim da Silva Jr.*
Em 1997 o cinema nacional ainda encontrava-se em processo de soerguimento após o duro golpe dado pelo governo Collor no início daquela década. Enquanto Carla Camurati com seu “Carlota Joaquina – Princeza do Brazil” havia reconquistado o público três anos antes, Fábio Barreto e “O Qu4trilho”, ao concorrer ao Oscar de filme estrangeiro em 1996, mostrava que as novas produções brasileiras já tinham fôlego para impressionar o mercado estrangeiro.
Foi também em 1997 que surgiu no horizonte do nosso circuito comercial cinematográfico Beto Brant com seu primeiro longa-metragem, “Os Matadores”. O jovem Brant, então com 34 anos, em pouco tempo viria a se tornar um dos mais produtivos, corajosos e eficazes entre os realizadores de sua geração.
O cineasta já havia dado sinal de vida inteligente no campo da produção audiovisual, fosse na confecção de videoclipes, fosse nos anteriores curtas-metragem: “Aurora” (1987), “Dov’è Meneghetti?” (1988) e, particularmente, em “Jó” (1993). Com “Os Matadores”, Brant dava continuidade e elaborava melhor seu desejo de registrar a realidade com uma narrativa seca, direta, sem firulas; estando o homem e seus conflitos com o próximo e com o ambiente como principal problemática.
A secura e objetividade narrativa não escondiam, porém, um esmero dramatúrgico e um roteiro laborioso, com um requinte pouco visto pelo cinema que se fazia no Brasil em 1997. E o mais importante, com uma identidade da classe média brasileira bem marcada. Coisa mais rara ainda quando o gênero era o policial nacional, que prescindia de glamour mas necessitava de um perfil audiovisual enxuto. Perfil que Brant conseguiu imprimir muito bem em “Os Matadores”, assim como em seus projetos posteriores, tais como “Ação entre Amigos” (1998) e “O Invasor” (2001) cuja trama também envolvia violência física e psicológica.
No caso de “Os Matadores” os homens em conflito são os assassinos de aluguel Toninho (Murilo Benício) e Alfredão (Wolney de Assis) que esperam à noite num bar, na divisa entre o Brasil e o Paraguai, uma vítima que nunca chega. Enquanto o condenado não aparece, o veterano Alfredão fala ao novato e impaciente Toninho sobre o pistoleiro Múcio (Chico Diaz, estupendo) seu antigo parceiro, considerado uma lenda na região.
Em elipses que unem o presente e o passado, o roteiro escrito pelo próprio Brant em parceria com Fernando Bonassi, Victor Navas e Marçal Aquino (cujo conto “Matadores” deu origem ao filme) abre espaço para acompanharmos não só as perturbações internas de seus personagens como também para observamos o ambiente atuando sobre esses personagens. Este último aspecto fica bem marcado com as seqüências do rodeio e do comércio no Paraguai, que “invadem” o enredo como um olho documental, oxigenando a veracidade da história ali contada.
O curta-metragem brasiliense “Sinistro” (2000), de René Sampaio, incluído neste pacote, também é baseado em contos, no caso, os de Fernando Sabino. Funciona também com o passado e o presente interligando os personagens. Eles são um ladrão, um taxista, seu passageiro e dois bombeiros ansiosos para se livrarem do corpo de um acidentado no trânsito. Entre todos eles, um jogo de futebol prestes a iniciar. Além do acidente sinistro, é o humor que também está presente em todas as situações deste muito bem encenado e montado trabalho.
*Crítico de cinema do jornal Folha de Pernambuco, curador do Cinema da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e professor da Especialização em Cinema da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).
quarta-feira, 2 de março de 2011
Dia 03/03/2011 - 19h - OS MATADORES, de Beto Brant / SINISTRO, de René Sampaio
SINOPSE - PROGRAMADORA BRASIL
Os Matadores e Sinistro, realizados com três anos de diferença entre eles (1997 e 2000, respectivamente), são dois filmes representativos de um determinado formato narrativo cinematográfico que encontrou seu ápice de utilização na segunda metade dos anos 1990: as multinarrativas, que dividem tanto seu protagonismo entre vários personagens simultaneamente, como também são marcadas pelas idas e vindas no tempo cronológico da sua história. Nos dois casos, outro ponto em comum é o flerte, em diferentes níveis, com o cinema policial – no caso, pelo lado dos "marginais". Os filmes marcam ainda a estréia em longa de Beto Brant e em curta de ficção de René Sampaio, com duas obras premiadas em festivais nacionais, que antecipavam promissoras carreiras. Finalmente, vale notar a proximidade geográfica entre os filmes, ambos ambientados na região Centro-Oeste, entre a fronteira Brasil-Paraguai, no caso do longa, e Brasília, no caso do curta.
OS MATADORES
FICHA DE INFORMAÇÕES
Duração: 90 min.
Lançamento: 1997
Gênero: Policial
Lançamento: 1997
Gênero: Policial
Classificação indicativa: 16 anos
Elenco: Chico Diaz , Murilo Benício , Maria Padilha , Wolney de Assis, Stênio Garcia, Adriano Stuart
SINISTRO
FICHA DE INFORMAÇÕES
Duração: 19 min e 0 seg.
Lançamento: 2001
Gênero: Ficção
Classificação indicativa: 12 anos
Lançamento: 2001
Gênero: Ficção
Classificação indicativa: 12 anos
Elenco: Fábio Nazar, Antônio Fragoso e Graça Veloso Abdom Bucar, André Deca, Christian Borges, Daílton Leite, Denilson Félix, Felícia Carneiro, João Paulo Oliveira, Leila Raquel, Moacyr Arantes Júnior, Murilo Grossi, Paulo Duro, Ricardo Machado, Tatá Ervilha, Vitor Leal, William Alves. Participação Especial: André Luiz Oliveira
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